Desmatamento e queimadas em Mato Grosso aumentam riscos de extinção para espécies de macacos
Pesquisadores do Brasil e do exterior alertam que o avanço do desmatamento com a perda de cobertura florestal em áreas protegidas já coloca em risco as populações de primatas. O tema foi um dos assuntos discutidos durante o XIX Congresso Brasileiro de Primatologia, iniciado em Sinop (MT) no final de semana. Entre os riscos do aumento de áreas desmatadas está o da extinção de espécies, incluindo algumas já classificadas como raras.
Área da Amazônia Legal atingida pelas queimadas equivale a 2 vezes o território de Sergipe; 30% ocorreu em Mato Grosso
Pesquisador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) da Argentina, Martin Kowalewski, apontou o desmatamento como a principal ameaça para as populações de primatas no Brasil. Segundo ele, é notório que o avanço do agronegócio no país tem contribuído não só com o aumento de incêndios florestais para dar lugar a plantações e pastagens, como também a dificuldade em punir os responsáveis por estes crimes.
“Sabemos que os incêndios nestas áreas não são naturais. A perda de um macaco reflete na perda do equilíbrio e resiliência ecológicos. Os ecossistemas não estão fortes para resistir ao desmatamento. Os primatas são importantes para toda a cadeia alimentar em áreas florestais e já temos espécies desaparecendo, seja pelo desmatamento, doenças, contato com pessoas e animais domésticos, dentre outros motivos. Temos que respeitar a vida, os animais e as pessoas e lutar pela preservação de cada espécie.”
Integrante do Instituto Ecótono, que compõe o Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), a pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Sinop, Christine Steiner São Bernardo, abordou a ameaça aos primatas frente às mudanças climáticas no estado. Demonstrando as alterações em territórios nos últimos anos, ela ressaltou que enquanto na década de 70, em Mato Grosso, havia grandes áreas florestais, atualmente há poucas, incluindo unidades de conservação. Entre as causas estão o avanço de monoculturas, como a soja; grilagens; construção de hidrelétricas; abertura de pastagens, além do desmatamento.
“A partir dos incêndios de 2020, fizemos um inventário de primatas ameaçados por estas queimadas nos trechos de florestas às margens do rio Teles Pires e o cenário encontrado nas matas é de muitas áreas de secas e queimadas. Porém, destaca-se também a importante atuação de assentamentos rurais com diversas iniciativas que tentam contribuir com a preservação destas espécies.”
Localizado ao norte de Mato Grosso, o Território Indígena do Xingu é uma das seis áreas do “arco do desmatamento” analisada pelo Projeto Impactos de Incêndios Florestais sobre Primatas em Áreas Protegidas da Amazônia (PIFAM), do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros do Instituto Chico Mendes (ICMBio).